Categoria: Memória Ilustrada

Indústria de fotonovela

O Observador Econômico e Financial

Título: Indústria de fotonovela

Edição 296, outubro de 1960

Rio de Janeiro/RJ

Autora: Mary Acker

Trecho:
O povo brasileiro, de modo geral, lê muito pouco. As mulheres lêem em menor escala, e as jovens, proporcionalmente, não liam nada até o advento dêsse tipo de revista. Essa preguiça mental encontra eco no cinema, no rádio e na televisão, que suprem a percentagem de sonho e de vida imaginativa que cada um tem dentro de si, – mais fortemente as jovens, que ainda não atravessaram experiências “diferentes”. O romance em quadrinhos veio ao encontro do fator juventude + preguiça mental + sonho, e formou seu público, que vai de 14 a 22 anos de idade. O índice de mulheres solteiras é superior. É um público específico, que só lê fotonovela, e que pertence à classe média (B1, B2 e C) para baixo.

É um tipo de leitura prejudicial à formação intelectual dos jovens? Os puritanos afirmarão que sim, que cada quadrinho nada mais é do que uma gôta de veneno destilado. Os proprietários das emprêsas acham que não, que suas revistas são um bom subsídio para quem, por princípio, não lê nada. Mas mesmo que se concorde com sua influência perniciosa, nada há que fazer, pois elas já se constituíra num mal necessário. Uma aspiração utópica seria a de querer que elas contivessem histórias moralizantes (mas o adultério é o tema principal…), e que abolisse tudo que fira a lei e os costumes.

Enfoque: Notícia negativa

Crédito: Biblioteca Nacional
Link: https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=123021&Pesq=gibi&pagfis=39185

1952 – O Pato Donald n. 22, a chegada do formatinho no Brasil

Em 8 de abril de 1952 chegava às bancas uma nova edição da revista d’O Pato Donald. Editado pela Editora Abril, esse número 22 trouxe uma novidade. Era a primeira revista em quadrinhos do Brasil a ser publicada no formato 13×21 cm, que ficou conhecido no país como “formatinho”.

Crédito foto: Site Gibiteca Brasil

O formatinho brasileiro se baseou na edição italiana da Disney chamada Topolino (como é conhecido o Mickey Mouse por lá). Durante a Segunda Guerra Mundial, Topolino ficou dois anos paralisado. Quando retornou as vendas, o país vivia as consequências sociais e econômicas da guerra. Em 1949, a editora Mondadori pensou em uma estratégia para aumentar as vendas reformulando o formato da revista, inspirado na revista de variedades chamada Reader’s Digest. A publicação semanal passaria a ser mensal e teria 100 páginas. A edição 738 foi a última desta série, passando a ser publicada a edição seguinte usando a numeração 1. Os leitores gostaram e as vendas voltaram a aumentar.

Crédito imagem: Ambaradan

O tamanho permitia um melhor aproveitamento do papel de gráfica, sendo possível imprimir até 18 páginas por folha. Esse aproveitamento possibilitava imprimir revistas com uma quantidade maior de páginas, com um custo mais em conta. A Abril usou o formato em outras revistas além da Disney, sendo seguido por outras editoras no Brasil.

Em adaptações, como nas revistas em quadrinhos de super heróis feitas em formato americano (17×26 cm), trazia alguns prejuízos, como a redução da arte, a exclusão de algumas páginas da história para caber na revista e a redução de textos dos diálogos dos balões.

Atualmente revistas como Disney e Turma da Mônica ainda utilizam o formato. A editora Panini, quando adquiriu os direitos de publicar os heróis da Marvel e DC, voltam a publicar as histórias no tamanho original das revistas norte-americanas.

O “Tiquinho” completa um ano

Revista O Malho

N. 133, janeiro de 1951

Título: O “Tiquinho” completa um ano

Rio de Janeiro

Autor: Ney Guimarães, d’A Tribuna de Santos

Trecho:

Em seguida surgiu a geração que ficou absorvida pela leitura do “Gibi” e outras publicações semelhantes. Crianças dessa geração são hoje rapazes, mas continuam atraidos por essa espécie de leitura que absolutamente nada de proveitoso lhes pode proporcionar. Oferece-lhe unicamente estupidez, no mais claro sentido que essa palavra apresente, dá-lhes uma visão falsa da vida.

[…]

Estou no conhecimento de que São Paulo se prepara uma campanha contra certa espécie de revistas que são dedicadas às crianças, mostrando os efeitos nocivos da leitura das atuais histórias em quadrinhos. Em 1945, numa das sessões do primeiro Congresso Brasileiro de Ecritores (sic) Juvenis, realizado em São Paulo, o assunto foi debatido com especial atenção e muito entusiasmo. A conclusão a que se chegou foi que essas histórias não tinham influência na mente das crianças. Penso o contrário. Acontece que muita gente que lê o “Gibi” e publicações no mesmo naipe não tem personalidade própria. Toda essa gente em seus costumes e atitudes, tem por modelo o cinema e nela a leitura se comunica acentuadamente. Todo o seu comportamento se subordina a esses elementos – cinema e leitura – no que têm de mais falso e condenável. […] Quero crer que essas histórias em quadrinhos dos nossos dias, preferidas pelas crianças (por culpa dos maiores e da sociedade), rapazes, muitos moços e até pela grande adulta propensa à leitura fazia de sentido e conteúdo, não representa nenhum perigo.

[…]

Nas estantes dessas bibliotecas deverão figurar revistas que lhes sejam de utilidade. O “Tiquinho” deverá estar nessas estantes e precisará ser passado pelos pequenos frequentadores de mão em mão.

Enfoque: Notícia negativa

Crédito: Biblioteca Nacional

Link: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=116300&Pesq=gibi&pagfis=101648

Biblioteca Pública

Jornal A Época

Título: Biblioteca Pública

Outubro de 1948

Caxias do Sul / RS

Autor: Jimmy Rodrigues – Redator da Rádio Caxias do Sul

Biblioteca Pública – Jornal Caxias do Sul (1948)

Trecho:

Não é isso que se quer, mas isso não quer dizer, também, que está certo que tenhamos uma mentalidade de jornal, ou de histórias de quadrinhos que aparecem no Gibi. E notem bem: o jornal e mesmo os Gibis são muito interessantes, interessantes quanto variedade, e nunca quando constituem a exclusiva leitura de alguém. A propósito, Ruy Barbosa, uma vez, contou a alguns amigos um conto muito interessante que havia lido. Perguntaram-lhe, depois da narração, onde havia lido aquele conto. E o Águia de Haya, respondeu: “Parece que foi no Globo Juvenil”… Talvez isso seja apenas anedotas, mas mesmo como anedota serve para demonstrar que Ruy Barbosa lia tudo que lhe caia nas mãos. E não queriam dizer agora que Ruy Barbosa sorveu a sua vasta cultura no Globo Juvenil.

Enfoque: Notícia positiva

Crédito: Memorial Biblioteca Nacional

Link: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=882089&pasta=ano%20194&pesq=&pagfis=1386