Categoria: Memória Ilustrada

1952 – O Pato Donald n. 22, a chegada do formatinho no Brasil

Em 8 de abril de 1952 chegava às bancas uma nova edição da revista d’O Pato Donald. Editado pela Editora Abril, esse número 22 trouxe uma novidade. Era a primeira revista em quadrinhos do Brasil a ser publicada no formato 13×21 cm, que ficou conhecido no país como “formatinho”.

Crédito foto: Site Gibiteca Brasil

O formatinho brasileiro se baseou na edição italiana da Disney chamada Topolino (como é conhecido o Mickey Mouse por lá). Durante a Segunda Guerra Mundial, Topolino ficou dois anos paralisado. Quando retornou as vendas, o país vivia as consequências sociais e econômicas da guerra. Em 1949, a editora Mondadori pensou em uma estratégia para aumentar as vendas reformulando o formato da revista, inspirado na revista de variedades chamada Reader’s Digest. A publicação semanal passaria a ser mensal e teria 100 páginas. A edição 738 foi a última desta série, passando a ser publicada a edição seguinte usando a numeração 1. Os leitores gostaram e as vendas voltaram a aumentar.

Crédito imagem: Ambaradan

O tamanho permitia um melhor aproveitamento do papel de gráfica, sendo possível imprimir até 18 páginas por folha. Esse aproveitamento possibilitava imprimir revistas com uma quantidade maior de páginas, com um custo mais em conta. A Abril usou o formato em outras revistas além da Disney, sendo seguido por outras editoras no Brasil.

Em adaptações, como nas revistas em quadrinhos de super heróis feitas em formato americano (17×26 cm), trazia alguns prejuízos, como a redução da arte, a exclusão de algumas páginas da história para caber na revista e a redução de textos dos diálogos dos balões.

Atualmente revistas como Disney e Turma da Mônica ainda utilizam o formato. A editora Panini, quando adquiriu os direitos de publicar os heróis da Marvel e DC, voltam a publicar as histórias no tamanho original das revistas norte-americanas.

O “Tiquinho” completa um ano

Revista O Malho

N. 133, janeiro de 1951

Título: O “Tiquinho” completa um ano

Rio de Janeiro

Autor: Ney Guimarães, d’A Tribuna de Santos

Trecho:

Em seguida surgiu a geração que ficou absorvida pela leitura do “Gibi” e outras publicações semelhantes. Crianças dessa geração são hoje rapazes, mas continuam atraidos por essa espécie de leitura que absolutamente nada de proveitoso lhes pode proporcionar. Oferece-lhe unicamente estupidez, no mais claro sentido que essa palavra apresente, dá-lhes uma visão falsa da vida.

[…]

Estou no conhecimento de que São Paulo se prepara uma campanha contra certa espécie de revistas que são dedicadas às crianças, mostrando os efeitos nocivos da leitura das atuais histórias em quadrinhos. Em 1945, numa das sessões do primeiro Congresso Brasileiro de Ecritores (sic) Juvenis, realizado em São Paulo, o assunto foi debatido com especial atenção e muito entusiasmo. A conclusão a que se chegou foi que essas histórias não tinham influência na mente das crianças. Penso o contrário. Acontece que muita gente que lê o “Gibi” e publicações no mesmo naipe não tem personalidade própria. Toda essa gente em seus costumes e atitudes, tem por modelo o cinema e nela a leitura se comunica acentuadamente. Todo o seu comportamento se subordina a esses elementos – cinema e leitura – no que têm de mais falso e condenável. […] Quero crer que essas histórias em quadrinhos dos nossos dias, preferidas pelas crianças (por culpa dos maiores e da sociedade), rapazes, muitos moços e até pela grande adulta propensa à leitura fazia de sentido e conteúdo, não representa nenhum perigo.

[…]

Nas estantes dessas bibliotecas deverão figurar revistas que lhes sejam de utilidade. O “Tiquinho” deverá estar nessas estantes e precisará ser passado pelos pequenos frequentadores de mão em mão.

Enfoque: Notícia negativa

Crédito: Biblioteca Nacional

Link: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=116300&Pesq=gibi&pagfis=101648

Biblioteca Pública

Jornal A Época

Título: Biblioteca Pública

Outubro de 1948

Caxias do Sul / RS

Autor: Jimmy Rodrigues – Redator da Rádio Caxias do Sul

Biblioteca Pública – Jornal Caxias do Sul (1948)

Trecho:

Não é isso que se quer, mas isso não quer dizer, também, que está certo que tenhamos uma mentalidade de jornal, ou de histórias de quadrinhos que aparecem no Gibi. E notem bem: o jornal e mesmo os Gibis são muito interessantes, interessantes quanto variedade, e nunca quando constituem a exclusiva leitura de alguém. A propósito, Ruy Barbosa, uma vez, contou a alguns amigos um conto muito interessante que havia lido. Perguntaram-lhe, depois da narração, onde havia lido aquele conto. E o Águia de Haya, respondeu: “Parece que foi no Globo Juvenil”… Talvez isso seja apenas anedotas, mas mesmo como anedota serve para demonstrar que Ruy Barbosa lia tudo que lhe caia nas mãos. E não queriam dizer agora que Ruy Barbosa sorveu a sua vasta cultura no Globo Juvenil.

Enfoque: Notícia positiva

Crédito: Memorial Biblioteca Nacional

Link: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=882089&pasta=ano%20194&pesq=&pagfis=1386

Confluência de problemas urgentes

O Momento

Título: Confluência de problemas urgentes

Edição 689, de 22 de junho de 1946

Caxias do Sul/RS

Autor: Aristeu

Trecho:

Crianças e Leitura

Em Caxias, como em todos os centros de civilização, há grandes males a sanar. Dentre muitos, um é o da leitura maléficas ou também de livros infantis que, pela ganância monetária, exploram as tendências instintivas da meninice e lhe corrompem a boa índole.

[…]

Haja vista o “Gibi” e o “Guri” e outras similares ao lado de certos opúsculos infantis que subvertem a imaginação da criança mediante o desenho caricaturista e o escrito bravateiro, animalesco e irrealisável.

[…] Pois bem, amigos ledores, compulsae o primeiro número de “Gibi” ou “Guri” que vos cair nas mãos e, oh! contradição, quem anda doutrinando a existência e possibilidade do milagre são precisamente os taes materialistas. Seus contos e apresentação, não já de fadas, são heroismos irrealisaveis de super-homens que, suplantando tudo, milagrosamente, sagraram se afinal heróes vencedores mediante todas as moralidades de arrôjo, de crime, de prestidigitação; feitos irrealisaveie para o comum dos homes.

[..]

Em desta artem vão adquirindo formação completamente negativa, seja no gosto pela arte, seja no conceito da vida, seja no uso de suas faculdades. […]

Há bem pouco tempo, deu-se um episódio que vem testemunhar a veracidade das conclusões aeima.

Um menino de onze anos era assíduo devorador das revistas “Gibi” e “Guri”. Tanto se impregnou daquelas aventuras criminosas que, de gênio bom e delicado, tornou-se autônomo, brigalhão, insuportável. Falecido o pae, insubordinou-se mais e mais contra a mãe. Um dia, afinal, ela o intimou a permanecer em casa para ajuda-la. O valentão, num repente, aventurou praticar uma cena degradante, análoga às lidas nas ditas revistas. Lançou mão do machado e investiu contra a mãe afim de massacrá-la. Isso com onze anos de idade. A cena é verídica e dela pode dar testemunho quem redigiu o presente artigo.

[…]

Apélamos aos paes, aos frofessorado e aos vendedores nos postos e livrarias para que ponham termo à existencia maléfica de tão grave e urgene problema.

Enfoque: Notícia negativa

Crédito: Biblioteca Nacional

Link: https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=882615&pesq=gibi&pasta=ano%20194&hf=memoria.bn.br&pagfis=3404