A estrutura básica de uma história em quadrinhos é formada de quadro, requadro e sarjeta.
QUADRO
O quadro é o espaço onde acontecem uma cena da história. Dentro dele poderão ser encontrados vários elementos, como o desenho, as legendas, os balões e as onomatopeias.
As histórias em quadrinhos são formadas de vários quadros, onde cada um contém uma cena. Juntas e colocadas em sequência formam uma história.
A leitura ocidental é feita da esquerda para a direita, de cima para baixo. Os quadros devem ser pensados nessa lógica.
O quadro podem assumir diversos formatos:
Essa composição pode variar de acordo com o que se pretende mostrar na história.
Nessa sequência, uma cena menor, uma segunda com um quadro em formato retângulo que possibilita uma cena mais horizontal, seguida de 3 outros quadros.
A composição agora é de uma sequência de três quadros, seguida de uma cena que ocupa todo o espaço inferior.
Enfim, são diversas possibilidades para melhor composição da narrativa.
Os quadros não precisam ter, necessariamente, só ângulos retos, podendo assumir infinitas forma, de acordo com a criatividade do quadrinista.
REQUADRO
O quadro possui uma moldura, chamada de requadro, que dá limite para a cena. Ela é um recurso visual que ajuda na separação das ações, ajudando na compreensão da história.
Existe a possibilidade de se suprimir a linha. Quando isso acontece, o requadro fica subentendido:
É necessário que o quadrinista domine a técnica de narrativa para que essa ausência de requadro não torne a história confusa.
SARJETA
Entre os quadros há um espaço em branco chamado de sarjeta, que serve de passagem de tempo entre duas ações. Além de contribuir na separação dos quadros, o espaço ajuda o leitor a ligar e completar as cenas usando a sua imaginação. Vamos detalhar o seu funcionamento mais abaixo com ajuda de um exemplo.
ANÁLISE DE ESTRUTURA
Vamos analisar uma tirinha para ver o funcionamento desta estrutura de quadro, requadro e sarjeta.
Foi criada uma composição em duas linhas, contendo cinco quadros.
O primeiro quadro ocupou toda a primeira linha com o objetivo de apresentação. O quadro maior permite mostrar os dois personagens, o cenário para localizar o leitor de onde acontece a história e o diálogo inicial.
A segunda linha foi fragmentada em 4 quadros para detalhar a sequência de um ovo de dinossauro sendo quebrado.
No primeiro quadro é usado o requadro tradicional. Os três seguintes ganham formato de nuvem para remeter a uma lembrança do passado. O quinto quadro, não há o requadro. Sua ausência, junto com um fundo branco, foi para criar um destaque maior para a conclusão, onde o foco era o personagem e sua fala.
Apesar do requadro limitar o espaço da ação, é comum também extrapolar e ultrapassar seus limites, como no quadro 4. Para ressaltar a quebra do ovo, dois pedaços da casca passam por cima da linha do requadro e invadem a sarjeta.
A sarjeta tem a função de fazer com que o leitor ligue as cenas. Você provavelmente leu a sequência acima em segundos. Visualizou o primeiro quadro um ovo, saltou para o segundo quadro e viu o ovo rachando. No terceiro, o dinossauro quebra a casca com uma expressão de quem fez muita força. O último quadro, o personagem conclui a história mostrando o resultado do seu esforço. Nesse momento, você usou o seu conhecimento pessoal para compreender a lógica a ação, porque provavelmente já viu ou leu sobre o nascimento de algum ovíparo. Sem perceber, a sarjeta lhe permitiu – em uma fração de segundos – o tempo necessário para que seu cérebro criasse uma sequência lógica que interligasse as ações.
Essa cena também funcionaria apresentando apenas dois quadros. Um ovo e depois o dinossauro já com a casca quebrada. Aqui não há desenho de transição do ovo rachando e o dinossauro rompendo a casca. Então, ao ver o primeiro quadro e saltar para o segundo, a sarjeta atua para que o leitor faça a interpretação e complete as cenas. Essa forma mais sintética trabalha para o processo de interpretação mais livre do que se passa entre as cenas.
Nesse outro exemplo, a cena de rachadura do ovo não aparece, deixando a rachadura da casca por conta do leitor.
Pode-se seguir o caminho inverso. Ao invés de deixar a aberto, o quadrinista pode detalhar as cenas com o objetivo de limitar e direcionar a sequência de cenas. Aumentando o número de quadro, a cena ganha uma duração maior porque o leitor terá que ver 6 quadros para percorrer do início ao fim da sequência.
A distância diferentes das sarjetas modifica o entendimento de passagem do tempo. Compare as duas últimas imagens. Apesar de ter o mesmo tamanho e o mesmo número de quadros, o distanciamento provoca sensações diferentes de duração da ação.
O quadrinista tem a possibilidade de explorar as infinitas maneiras de conduzir sua história em quadrinhos.
Sugiro que pegue algumas revistas de diferentes estilos, releia, desta vez fazendo uma análise das soluções que os artistas usaram para os quadros, requadros e sarjeta para contar a história.