Quadrinhos na educação: da rejeição à prática

Organização: Waldomiro Vergueiro e Paulo Ramos

Houve um tempo, não tão distante assim, em que levar revistas em quadrinhos para a sala de aula era motivo de repressão por parte dos professores. Tais publicações eram interpretadas como leitura de lazer e, por isso, superficiais e com conteúdo aquém do esperado para a realidade do aluno. Dois dos argumentos muitos usados é que geravam “preguiça mental” nos estudantes e afastavam os alunos da chamada “boa leitura”. Na realidade, tratava-se de discursos ocos, sem embasamento científico, reproduzido de forma acrítica para contornar um desconhecimento sobre a área.
(Vergueiro; Ramos, 2015, p. 9)

Dizer que quadrinhos são literatura evidencia duas posturas. A primeira é que se busca um rótulo social e academicamente prestigiado – o literário – para justificar a presença dos quadrinhos na escola e, possivelmente, na lista do PNBE. A outra indica um desconhecimento da área de quadrinhos, que soma pouco estudos acadêmicos, embora em número já suficiente para afirmar que quadrinhos são quadrinhos e literatura é literatura.

[…]

Quadrinhos são uma manifestação artística autônoma, assim como a são a literatura, o cinema, a dança, a pintura, o teatro e tantas outras formas de expressão. Esse entendimento é corroborado por diferentes autores, como Moacy Cirne (1977, 2000), Will Eisner (1989) e Daniel Barbieri (1998), para quem os quadrinhos já teriam se “emancipado” e constituído recursos próprios de linguagem.

Diálogos entre as linguagens ocorrem. E também acontecem com o cinema, o teatro, a ilustração. Nem por isso deixam de manter suas características autônomas. Ou será que alguém espera encontrar balões em um romance? Não. Pois balões são uma convenção característica da linguagem dos quadrinhos.

Não é de causar estranheza, então, que haja um diálogo entre literatura e quadrinhos. A relação entre as duas áreas artísticas foi o cerne de um gênero autônomo, a literatura em quadrinhos. […]
(Vergueiro; Ramos, 2015, p. 36-37)

O simples recebimento dos livros e sua colocação em estantes não podem ser vistos como incentivo à leitura.
(Vergueiro; Ramos, 2015, p. 39)

O MEC parece encarar os quadrinhos – por mesclarem elementos verbais escritos e visuais – como um estímulo à leitura, uma das premissas do programa. Essa é uma visão parcial da questão. Quadrinhos também são leitura.

Leitura não é só livro. Leitura é tudo. Como dizia o educador Paulo Freire (1988), “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Assim, pode-se dizer que uma leitura sempre é o caminho para outras mais, numa espiral sem começo ou fim.
(Vergueiro; Ramos, 2015, p. 40)

Sumário:

  • Os quadrinhos (oficialmente) na escola: dos PCN ao PNBE – Waldomiro Vergueiro e Paulo Ramos
  • Biografias em quadrinhos – João Marcos Parreira Mendonça
  • Quadrinhos de aventura – Túlio vilela
  • Mangás em sala de aula – Alexandre Barbosa
  • Literatura em quadrinhos – Lielson Zeni
  • Quadrinhos infantis – Waldomiro Vergueiro
  • Humor nos quadrinhos – Paulo Ramos

VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo. Os quadrinhos (oficialmente) na escola: dos PCN ao PNBE. In: Quadrinhos na educação: da rejeição à prática. VERGUEIRO, Waldomiro. RAMOS, Paulo. (orgs.). 1. ed., 2. reimp. São Paulo: Contexto, 2015. 224 p.

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