Além do enquadramento, a ação dentro de uma história em quadrinhos pode ser modificada a partir da localização do ponto de vista. Estes ângulos podem ser do tipo Superior, Médio e Inferior.
ÂNGULO MÉDIO
O enquadramento posiciona o leitor a ver a ação de frente. É o mais comum e mais utilizado nas histórias em quadrinhos.
Na cena de exemplo, uma mulher corre com um chinelo atrás de uma barata pelo banheiro. A posição de ângulo médio faz o leitor acompanha a perseguição através de olhar de distanciamento. É possível ver a diferença de tamanho real entre os personagens. Pela distância entre eles, é eminente o golpe de chinelo que estar por vir.
A hachura é uma técnica do desenho usada para produzir os efeitos de sombreamento e de profundidade, além de ser empregada para simular textura de diferentes superfícies.
Vários materiais possuem a capacidade de criar tonalidades, indo do claro para o escuro. Isso depende das características específicas de cada um. Em tinta pode ser usado solventes ou a mistura com outras tintas. Em lápis e giz, a pressão sobre a superfície determinará suas variações. Na foto abaixo é usado um lápis grafite nº 6, que varia de tonalidade de acordo com a força que você exerce no lápis sobre o papel. Por outro lado, a caneta nanquim descartável independe de força, ela sempre desenhará com a mesma tonalidade. Então a hachura servirá para simular esse efeito usando uma cor chapada, isto é, cor única sem graduações.
Geralmente a hachura é composta por traços paralelos ou cruzados, podendo variar o espaçamento, a espessura da linha e a quantidade de entrelaçamento. Existem outras foram para produzir esses efeitos para além da hachura, como o uso do pontilhismo.
Sinopse: “Quadrinhos, sedução e paixão é o sexto livro de Moacy Cirne sobre o tema, desde o pioneiro A explosão criativa dos quadrinhos, lançado em 1970 pela Editora Vozes, e que seria o primeiro livro publicado no Brasil dedicado ao fascinante universo dos “heróis e heroínas de papel”. A obra é capaz de mobilizar não apenas os que apreciam – e discutem – a linguagem dos comics. Aqueles que admiram poesia, cinema e ficção científica, por exemplo, também terão motivos para se interessar por suas indagações críticas – e que não são poucas. São indagações que abrangem o mundo dos quadrinhos, mas que procuram abarcar outras vertentes na esfera da arte. Afinal, a “febre sociológica” que norteava os primeiros ensaios sobre os quadrinhos, nos anos 60 e 70, já passou. O momento exige uma reflexão mais profunda sobre as potencialidades criativas e seus devaneios oníricos, assim como continua exigindo uma visão acurada de seus embates ideológicos e de sua relação com as novas tecnologias e algumas das demais linguagens do campo artístico.
Moacy Cirne nasceu em Jardim do Seridó, RN, em 1943. Morou longos anos em Caicó e Natal, no mesmo Estado. Passou a residir no Rio de Janeiro em 1967. Estudou Direito. Participou da fundação do poema-processo , em 1967. Secretariou a revista Cultura Vozes, nos anos 70. Publicou mais de 15 livros, entre os quais História e crítica dos quadrinhos brasileiros (1990), premiado em Cuba com o troféu La Palma Real. Laureado, em 2000, com o Troféu Angelo Agostini, de São Paulo. Criou a “folha porreta” Balaio, distribuída a partir de 1986. Professor da Universidade Federal Fluminense desde 1971, atualmente vice-diretor do Instituto de Arte e Comunicação Social e chefe do Departamento de Comunicação Social.”
Capítulos:
Imaginário e especificidade dos quadrinhos;
Quadrinhos, política e saber militantes;
Heróis e personagens – talvez sim, talvez ficção;
Quadrinhos, máquina & imaginário;
Lugar do erotismo nas histórias-em-quadrinhos;
Cinema e quadrinhos: uma nova leitura;
Quadrinhos e literatura: um olhar marcado pela poesia;
Da ficção científica ao mundo dos quadrinhos;
Há um cânone dos quadrinhos?
Quadrinhos são uma narrativa gráfico-visual, impulsionada por sucessivos cortes, cortes estes que agenciam imagens rabiscadas, desenhadas e/ou pintadas. O lugar significante do corte – que chamaremos de corte gráfico – será sempre o lugar de um corte espácio-temporal, a ser preenchido pelo imaginário do leitor. Eis aqui sua especificidade: o espaço de uma narrativa gráfica que se alimenta de cortes igualmente gráficos. Na “banda desenhada”, a grafia exibe uma dupla articulação semiótica: a narrativa enquanto tal e o seu agente impulsionador (o corte), que mobilizam a relação produção/leitura de forma a mais eficaz possível, tendo em vista a própria operacionalidade semântica e estrutural de sua vigência quadrinhística. Isto é, seu espaço narrativo só existe na medida em que articula com os cortes, que, assim, seriam redimensionados pelo leitor. De maneira mais simpler, diremos: a especificidade dos quadrinhos implica seu modo narrativo, determinado pelo ritmo das tiras e/ou páginas em função de cada leitura particular, leitura esta que se constrói a partir das imagens e dos cortes. Neste sentido, os balões, que encerram a “fala” e/ou o “pensamento”, por mais importantes que sejam, não passam de elementos lingüísticos, mesmo quando inventem na estesia de suas possibilidades criativas. Mesmo quando são metalingüísticos. (CIRNE, 2000, p. 23-24)
CIRNE, Moacy. Quadrinhos, sedução e paixão. Petrópolis: Vozes, 2000.
CDD- 741.5 1. Histórias em quadrinhos : interpretação crítica
“A importância social, estética e comunicacional das estórias em quadrinhos já foi devidamente assinalada, seja por Umberto Eco e Alain Resnais, seja por Marshall McLuan e Federico Fellini. Seus instigantes e excepcionais vetores criativos, a partir de 1960/61, começaram a merecer análises críticas pautadas na especificidade de sua linguagem: a narrativa estruturada segundo certos requisitos semânticos e operacionais.
No Brasil, – no que se refere ao campo editorial -, a VOZES é pioneira no estudo de quadrinhos. Primeiramente, com o n. 7, de julho de 1969, da Revista Vozes; em seguida, com o livro Bum! A explosão criativa dos quadrinhos, de Moacy Cirne, lançado em julho de 1970, e já em 2ª edição. E mais uma vez Moacy Cirne se volta para a problemática estético-informacional dos comics, desta feita se detendo na particularidades sígnicas que constituem as historietas brasileiras.
O presente livro – A linguagem dos quadrinhos -, além de levar alguns problemas ideológicos e econômicos da maior relevância cultural, específicos à nossa realidade contextual, estuda (pela primeira vez entre nós) a experiência do Pererê, de Ziraldo, e a obra em progresso de Maurício de Sousa. O universo encantatório de Pererê e Tininim, Galileu e Campadre Tonice, Mônica e Cebolinha, Horácio e Jotalhão nos é relevado com a mesma clareza crítica que precisou o Bum! Além disso, nos são apontados o contexto vanguardísticos que se fabrica ao lado das experiência em quadrinhos, os procedimentos onomatopaicos em Ziraldo, as melhores estórias da revista Pererê, a metalinguagem e o absurdo antológico em Maurício de Sousa. Assim sendo, o livro se apresenta indispensável para estudiosos de quadrinhos, teóricos da comunicação e praticantes da vanguarda (no cinema, na música, no poema).
Moacy Cirne, natural do Rio Grande do Norte, estudou na Faculdade de Direito de Natal, despontou como autor laureado no I Prêmio Esso-Jornal de Letras de Literatura (1966), fundou – ao lado de outros poetas – o movimento do poema/processo (1967), publicou o primeiro livro brasileiro sôbre quadrinhos (1970), coordenou um número sôbre O mundo dos super-heróis (1971). É professor do Instituto de Comunicação da Universidade Federal Fluminense e secretário da referida revistas de Cultura Vozes.”
Citações:
Os quadrinhos brasileiros – e/ou os quadrinhos no Brasil – nunca foram levados a sério. […] Quando a problemática comunicacional passou a receber um tratamento crítico fundado na semiótica e na Teoria científica da História, os quadrinhos despontaram […] (CIRNE, 1971, p. 9).
Estamos vendo como os quadrinhos (da mesma forma que o cinema, o poema de vanguarda etc.), e em especial os quadrinhos brasileiros, podem e devem levar questões da mais alta significação cultural, como aliás o têm feito durante todos êstes anos. Resta verificar se ao levantamento desses questões tem correspondido uma ação crítica eficaz e criativa (CIRNE, 1971, p. 16).
Assim como existe uma nova crítica literária (nascida fora das Faculdades de Letras!) e uma nova crítica cinematográfica (nascida fora dos cineclubes!), é preciso que exista uma (nova) crítica de quadrinhos.
É bem possível que em breve tenhamos semiólogos, por exemplo, como os nossos melhores críticos de historietas, para desespêro dos “colecionadores de gibis”.
Sômente uma crítica nova atenderá criativamente às exigências de um processo nôvo. No cinema, na música, no poema. E nos quadrinhos. (CIRNE, 1971, p. 17-18)
CIRNE, Moacy. A linguagem dos quadrinhos: o universo estrutural de Ziraldo e Maurício de Sousa. Petrópolis: Vozes, 1971.