O Rio Nu era um periódico que começou a circular na cidade do Rio de Janeiro em 1898. Voltado para o público masculino, era uma publicação de 4 páginas, com estilo transgressor para sua época. Foi o responsável por introduzir a pornografia na imprensa brasileira.
Com a evolução das técnicas de impressão, passou a ser ilustrado. Em 10 de janeiro de 1900, o periódico bi-semanal reformulou seu visual, aumentou para 8 páginas e se intitulou como “Caustico, humorístico e illustrado”. A partir desse ano, houve o aumento de ilustração com mulheres nuas que fez a aumentar a venda de exemplares.
Na edição de 10 de janeiro de 1900, há na capa o publicação do trabalho do artista Armando Sacramento com uma tirinha em quadrinhos bem humorada. Era o Zé aguardando uma mulher casada sair escondida pela janela. Mas o Zé é surpreendido por um homem disfarçado, que desmarcara a traição e dando-lhe uma bengalada. A sequência tem três quadros, sem a divisão de requadros entres eles, e com texto narrativo localizado no rodapé dos desenhos.
Em fevereiro de 1900, a capa de O Rio Nú traz um quadrinhos de Frei Gallo. Nele, um homem se encanta por uma mulher e a aborda na rua, faz galanteios e aplica uma irresistível cantada. A mulher então o leva para sua casa para matar todos os seus desejos. No quarto, ao começar a tirar a roupa, a mulher deixa o homem bastante empolgado com os seios opulentos e esbeltos. Mas no final, ao tirar o corpete, ela revela que se trata de enchimento. Ela termina dizendo que só os peitos são postiços, todo o resto é brasileiro: “Tem sal, pimenta e limão…” Neste trabalho, os textos ainda estão no rodapé, mas percebe-se que as seis cenas estão separadas por requadros.
Segundo Johnatas dos Santos Costa (2021, p. 440) “Primeiramente, O Rio Nu esteve inserido na Belle Époque, um período de euforia e progresso na Europa, que atingiu fortemente o Brasil na última década do século XIX e fez com que a noção de civilização estivesse na ordem do dia. O mundo queira ser civilizado e o Brasil não ficou à parte.” Produzidos por jovens boêmios, o jornal chegou a circular por outras cidades, saltando de 15 mil exemplares em 1899, para 50 mil em 1910. “O Rio Nu transitava em uma via de mão dupla: ora rompendo moralidades, ora reforçando hierarquias socioculturais” (Costa, 2021, p. 474).
Percebe-se também que muitas das ilustrações traziam a mulher como metáfora para o país. Uma nação farta, fértil e sedutora. Foi na revisa O Rio Nu, de 11 de janeiro de 1905, onde se pode encontrar um dos primeiros registros da palavra gibi usadas como gíria para menino negro. Na ilustração “De preto a mulato” uma mulher amamenta um menino negro e no texto: “Tenho esperança de que farei deste gibi um mulatinho. Desta mistura não pode deixar de sahir café com leite.” Trazia a teoria eugenista, desenvolvida na Europa, de uma raça branca superior. No Brasil, após a Abolição da Escravatura (1888), a elite econômica brasileira desejava promover o branqueamento do país através do incentivo às imigrações e da miscigenação da população.
O jornal passou por dificuldades quando surge um movimento antipornografia, que começou em 1910. O diretor geral dos Correios, ligado a movimentos religiosos, proibiu o trânsito da publicação na repartição. No dia 30 de março, O Rio Nú publica um editorial de duas páginas contestando a decisão do funcionário público e acusando de censura postal. O jornal entrou com recursos na Justiça Federal para cassar a decisão.
A vitória contra a circular dos Correios é comemorada no dia 3 de setembro, com o anúncio de edição especial com 50 mil exemplares, impressa em cores, no dia 7 de setembro. “Os desenhos são da lavra de um dos nossos melhores artistas do lápis, que para elles escreveu legendas adequadas. O texto, variado e alegre, nada deixará a desejar.”
“Independencia ou morte para paiz e ainda A Pendencia à morte! para o director dos Correios.”
O Rio Nu circulou até 30 de dezembro de 1916.
Créditos das imagens: Hemeroteca da Biblioteca Nacional.
COSTA, J. dos S. Entre a norma e a transgressão: Uma história do jornal pornográfico O Rio Nu (1898-1916). Revista Aedos, [S. l.], v. 13, n. 28, p. 439–479, 2021. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/aedos/article/view/114423.