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Histórias em quadrinhos e serviços de informação: um relacionamento em fase de definição

Autor: Waldomiro Vergueiro

Resumo:

Existentes como meio de comunicação de massa desde o fim do século 19, as histórias em quadrinhos recentemente têm sido mais bem recebidas pela sociedade, adentrando as unidades de informação e trazendo novos desafios para os profissionais de informação, que necessitam familiarizar-se com elas, informar-se sobre as suas características e conhecer as fontes na área. Com base neste contexto, apresenta-se uma definição das histórias em quadrinhos, as características de sua linguagem, seu enfoque como meios de comunicação de massa, relação com as bibliotecas e as principais características de seus produtos, consumidores e fontes de informação. Sugerem-se algumas fontes na área.

Citações

” O Brasil, depois de alguma controvérsia inicial sobre a utilização de “estórias” ou “histórias”, parece ter consagrado a expressão “histórias em quadrinhos” (normalmente abreviada para “HQ”) como a de maior preferência; no entanto, muitos leitores antigos e grande parte dos novos continuam ainda a utilizar o termo gibis quando se referem às revistas de histórias em quadrinhos de uma maneira geral, reproduzindo uma apropriação lingüística semelhante à ocorrida no território espanhol, pois Gibi foi também uma popular revista de histórias em quadrinhos publicada no país [ANSELMO, 1975; CIRNE, 1990; MOYA, 1996]” (Vergueiro, 2005, p. 2).

” […] é possível afirmar, em relação a elas, que constituem um meio de comunicação de
massa que agrega dois códigos distintos para a transmissão de uma mensagem:
1) o lingüístico, presente nas palavras utilizadas nos elementos narrativos, na expressão dos diversos personagens e na representação dos diversos sons; e
2) o pictórico, constituído pela representação de pessoas, objetos, meio ambiente, idéias abstratas e/ou esotéricas etc” .

Além desses dois códigos, as histórias em quadrinhos desenvolveram também diversos elementos que lhes são hoje característicos e constituem elementos característicos de sua linguagem, como o balão, as onomatopéias, as parábolas visuais etc., todos eles concorrendo para expressar uma narrativa, por mais breve que esta seja [SARACENI, 2003]” (Vergueiro, 2005, p. 2).

GIBITECAS

” Bibliotecas públicas especialmente dedicadas à coleta, armazenamento e disseminação de histórias em quadrinhos são instituições genuinamente brasileiras, existindo desde o início da década de 1980, quando uma instituição pública na capital do Estado do Paraná decidiu fundar a primeira unidade desse tipo, que batizou com o nome de gibiteca, um neologismo que mescla a forma como as revistas de histórias em quadrinhos são tradicional e carinhosamente referidas no país – gibis -, com as unidades de informação – bibliotecas [VERGUEIRO, 1994]. Com o surgimento da Gibiteca de Curitiba, cunhava-se o termo genérico para denominar qualquer biblioteca que colocasse as histórias em quadrinhos como o centro de sua prática de serviço de informação e que seria então
utilizado em todo o país” (Vergueiro, 2005, p. 2).

TIPOS DE PUBLICAÇÕES

“De uma maneira geral, atualmente diversos veículos e formatos de publicação de histórias em quadrinhos podem ser encontrados no mercado, cada um deles com características singulares que afetam tanto sua forma como seu conteúdo. Entre esses, pode-se destacar:

a) gibis: publicações periódicas disponíveis em uma grande diversidade de títulos e temáticas, são encontrados com facilidade em qualquer banca de jornal. […] Normalmente destinados ao público infantil e juvenil, são baratos, feitos em papel frágil e de pouca durabilidade, representando o clássico produto para consumo de massa; no entanto, também existem gibis no formato conhecido como americano, por ser o tamanho em que
são publicados os “comic books” nos Estados Unidos e diversos outros países. A periodicidade dessas revistas pode variar, sendo mais comum a mensal. […] Além das revistas de periodicidade regular, costumam também ser publicados suplementos e edições especiais, almanaques e edições singulares ou comemorativas que englobam personagens de várias revistas diferentes, às vezes sob uma denominação totalmente nova, outras utilizando um título já familiar aos leitores.

Sob muitos aspectos, os gibis representam um mercado totalmente caótico, sem qualquer tipo de padronização em relação à numeração, uniformidade dos títulos ou continuidade […]

b) álbuns e edições encadernadas: fisicamente, estão muito mais próximos dos livros infantis do que dos gibis. Diferentemente destes últimos, no entanto, não têm periodicidade, sendo publicados em edições únicas, que trazem histórias em geral fechadas em si mesmas, sem um compromisso declarado com a continuidade (embora, algumas vezes, ocorra que o sucesso de um personagem leve a seu aparecimento em álbuns posteriores).

[…] O custo dessas publicações costuma ser mais alto que o dos gibis, o que se justifica pela qualidade do papel, da impressão e da encadernação. […]

c) “Graphic novels”, maxi e minisséries: […] constitui-se na busca de um tratamento
diferenciado para um ou mais personagens familiares aos leitores, explorando-os em edições fechadas que se diferenciam daquele tratamento dado a eles nos meios tradicionais. Isto envolve tanto um maior aprimoramento gráfico, com publicações em formato diverso e papel de melhor qualidade, como temático, envolvendo produções mais elaboradas em termos de roteiro e arte, muitas vezes com a presença de artistas especialmente convidados.

[…]

d) quadrinhos em jornais: os jornais foram o berço das histórias em quadrinhos e uma grande quantidade delas continua a ser publicada neles diária ou semanalmente, numa produção cuja dimensão é difícil de avaliar. Muitas tiras ou histórias dominicais jamais são lançadas novamente em outra modalidade de publicação, dificultando o trabalho de preservação da memória quadrinhística, pois os jornais são materiais frágeis que se perdem com muita facilidade.

Para se ter acesso aos quadrinhos publicados na imprensa jornalística, sejam as tiras diárias ou as páginas dominicais, muitas vezes não existe alternativa a não ser identificar os títulos em que aparecem e efetuar uma assinatura (ou adquiri-los diariamente em bancas de jornais), uma solução que é apropriada para materiais correntes mas que pouco efetiva quando se busca material retrospectivo.

[…]

e) fanzines: o termo designa uma revista feitas por aficcionados do gênero, a maioria das vezes colecionadores ou artistas iniciantes. Nesse sentido, a própria palavra escolhida para definir essas publicações já define suas principais características, representando a junção de dois termos: fã e magazine.

Os fanzines podem ser publicações de caráter analítico, buscando discutir as histórias em quadrinhos e suas particularidades, debater preferências, explorar as características de cada autor ou personagem, como também incluir histórias originais elaboradas pelos responsáveis pela publicação ou por leitores e pessoas especialmente convidadas. Neste último caso, costuma-se distinguir uma outra categoria, a de revistas alternativas, designando aquelas produzidas fora do mercado tradicional de gibis.

[…]

f) Publicações variadas: além de sua disponibilidade nos diversos tipos de materiais já descritos, as histórias em quadrinhos podem também ser incluídas em revistas gerais de informação ou dirigidas para públicos especializados. Além disso, os quadrinhos podem surgir em publicações especialmente elaboradas para uso em publicidade ou propaganda política; livros didáticos; edições patrocinadas por instituições governamentais ou não, que as utilizam como instrumentos para a transmissão de mensagens educativas; revistas que as enfocam como tema principal, abordando aspectos de conteúdo e novidades da área, para apenas citar algumas das modalidades mais evidentes.

(Vergueiro, 2005, p. 6-8)

CONSUMO

” a) eventuais: aqueles que usufruem das histórias em quadrinhos da mesma forma como utilizam todas as outras modalidades de leitura, sem qualquer predileção especial por esse meio de comunicação específico, com um conhecimento apenas superficial de autores ou títulos e tendendo a se concentrar naqueles de maior popularidade. Não buscam nada além da satisfação momentânea de suas necessidades de leitura de entretenimento, sendo guiados muito mais por motivos circunstanciais do que por qualquer ato consciente de escolha;

b) exaustivos: os que lêem apenas histórias em quadrinhos mas não fazem qualquer tipo de seleção, consumindo à exaustão tudo o que for produzido pelo meio. Em termos etários, tendem a se concentrar nas camadas mais jovens da população. É possível supor que o número desses leitores diminui em proporção com o seu envelhecimento: quanto mais velhos, menor é a probabilidade da leitura exclusiva de histórias em quadrinhos, já que surgem outros interesses a dividir sua atenção. No entanto, essa regra não é assim tão rígida. Algumas vezes, leitores exaustivos são também grandes colecionadores;

c) seletivos: leitores que têm predileção apenas por determinados gêneros, personagens ou autores. Lêem tudo o que é publicado em sua área de interesse e buscam fazer a correlação de suas leituras com outros meios de comunicação de massa. Leitores seletivos também costumam, algumas vezes, ser colecionadores desses materiais;

d) fanáticos: como o próprio nome diz, levam sua predileção a extremos. Não apenas lêem as histórias de seus personagens e títulos prediletos, como também procuram saber o máximo possível sobre eles, conhecendo minúcias de produção, características específicas de cada desenhista ou roteirista, evolução histórica do protagonista e coadjuvantes, etc. Constantemente, são também ávidos colecionadores de tudo que diga respeito a sua predileção, englobando publicações de todos os tipos que se relacionem com ele, bem como filmes e suas trilhas sonoras, autógrafos dos autores e desenhos originais dos artistas. Os fanáticos não falam de outro assunto que não aquele de sua predileção e tendem a defender seus pontos de vista com unhas e dentes, parecendo não entender muito bem porque estes não são compartilhados pelo restante da população. Quando encontram outros com preocupações semelhantes, costumam criar clubes ou associações;

e) estudiosos: nem sempre são leitores tão ávidos, mas resolveram se debruçar sobre as histórias em quadrinhos para estudar suas características e relações com outros meios de comunicação, com outros aspectos da vida social ou sob o ponto de vista de sua aplicação em determinadas ciências ou atividades. Muitas vezes, a predileção pelo estudo das histórias em quadrinhos ocorre em função de contingências acadêmicas específicas, como a elaboração de uma tese ou trabalho de conclusão de curso de graduação, deixando de existir tão logo elas terminem. Outras vezes, esse estudo inicial funciona como um despertar para esse tipo de publicação, persistindo na vida intelectual do indivíduo, que continua a ler e a estudar os quadrinhos durante muito tempo após o término da atividade acadêmica que originalmente o levou a eles. Ele passa a fazer parte, então, de grupos mais exigentes de leitores, que procuram por materiais de maior nível de qualidade, que tenham condições de lhes trazer benefícios intelectuais inquestionáveis. “

(Vergueiro, 2005, p. 8-9)

VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Histórias em quadrinhos e serviços de informação: um relacionamento em fase de definição. DataGramaZero, v. 6, n. 2. , 2005. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/5643.