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1938 – Memória Coletiva

Memória e estrutura social

Maurice Halbwachs (1877-1945). Sociólogo francês que nasceu em Reims, em 1877. Trabalhou na Universidade de Strasbourg e Sorbonne. Editou o Annales de Sociologie. Criou o conceito de memória coletiva. Socialista, foi detido pela Gestapo e enviado para um campo de concentração nazista em 1945.

Criou a compreensão do significado de memória coletiva em um época em que a memória era entendida primordialmente enquanto fenômeno individual e subjetivo. Afirmou que tudo o que nós lembramos do passado faz parte de construções sociais que são realizadas no presente. “É em sociedade que, normalmente, o homem adquire suas lembranças, que ele se recorda delas e, como se diz, ele as reconhece e as localiza”.

A obra de Halbwachs pode ser compreendida a partir de seu vínculo com as correntes reformistas do socialismo de sua época, bem como as teorias dukheimianas. Sempre esteve presente em seus escritos a ênfase no conceito de solidariedade e a rejeição à noção de que a natureza humana fosse animada por impulsos subjetivos e egoístas.

Em 1909, tornou-se colaborar do sociólogo Émile Durkheim. Em 1925, a partir da publicação de Les cadres sociaux de la mémoire passou a analisar de forma sistemática o caráter social da memória. Partir da tentativa de compreender o suicídio enquanto um fato social. Em 1938, publicou a Morphologie sociale, consolidando sua obra de referência sobre a memória coletiva.

Os quadros sociais são próprias da condição da vida em sociedade, consistindo nas categorias de entendimento que enquadram toda a experiência humana: linguagem, tempo e espaço.

“A morfologia social, como a sociologia, apoia-se antes de tudo sobre as representações coletivas. Se nós concentramos nossa atenção sobre estas formas materiais, é com a finalidade de descobrir, por detrás delas, toda uma parte da psicologia coletiva. Pois a sociedade se insere no mundo material, e o pensamento do grupo encontra, nas representações que decorrem das condições espaciais, um princípio de regularidade e de estabilidade, da mesma maneira que o pensamento individual tem necessidade de perceber o corpo e o espaço para se manter em equilíbrio.”

“Indivíduos utilizam imagens do passado enquanto membros de grupos sociais, e usam convenções sociais que não são completamente criadas por eles. Indivíduos não recordam sozinhos, quer dizer, eles sempre precisam da memória de outras pessoas para confirmar suas próprias recordações e para lhes dar resistência.”

“Se as imagens se fundem estreitamente com as lembranças, e se elas parecem emprestar às lembranças sua substância, é porque nossa memória não é como uma tábua rasa”.

O passado que existe é apenas aquele que é reconstruído continuamente no presente. O funcionamento da memória apresenta elementos da tradição, isto é, de quadros coletivos anteriores à tomada de decisão pelo indivíduos, eram incorporados nas novas configurações que eram feitas sobre o passado.

Para confirmar ou recordar uma lembrança, não são necessários testemunhos no sentido literal da palavra, ou seja, indivíduos presentes sob uma forma material e sensível. […] Um ou muitas pessoas juntando suas lembranças conseguem descrever com muita exatidão fatos ou objetos que vimos ao mesmo tempo em que elas, e conseguem até reconstituir toda a sequência de nossos atos e novas palavras em circunstâncias definidas, sem que nos lembremos de nada de tudo isso. […] Todavia, quando dizemos que o depoimento de alguém que esteve presente ou participou de certo evento não no fará recordar nada se não restou em nosso espírito nenhum vestígio do evento passado que tentamos evocar, não pretendemos dizer que a lembrança ou parte dela devesse subsistir em nós da mesma forma, mas somente que, como nós e as testemunhas fazíamos parte de um mesmo grupo e pensávamos em comum com relação a certos aspectos, permanecemos em contato com esse grupo e ainda somos capazes de nos identificar com ele e de confundir o nosso passado com o dele.

SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. Memória Coletiva e Teoria Social. São Paulo, Annablume, 2003

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.