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1908 – Revista Careta

1ª edição: 6 de junho de 1908, Rio de Janeiro/RJ

Revista criada em 1908 por Jorge Schmidt que tinha como linha editorial o conteúdo humorístico e a crítica de costumes. Tinha periodicidade semanal, saindo sempre aos sábados. Entre os colaboradores estavam os cartunistas Raul, J. Carlos, Belmente, Malagute, Raul Pederneiras, Calixto e Theo. Além das charges, publicava notícias, crônicas, poesia, colunas de opinião e colunismo social.

A capa da primeira edição foi feita por J. Carlos e retratava Afonso Pena, o Presidente da República em 1908.

Aí vai a nossa Careta. Lançando à publicidade esse semanário, é preciso confessar, e contritamente o fazemos, que a Careta é feita para o público, o grande e respeitável público, com P maiúsculo! Se tomamos esta liberdade foi porque sabíamos perfeitamente que ele não morre de caretas. Longe vai o tempo em que isso acontecia. Todavia, nossa esperança é justamente que o público morra pela Careta, a fim de que ela viva. E, feita cinicamente essa confissão egoísta (…) Digamos logo que o nosso programa cifra-se unicamente em fazer caretas (…) As nossas caretas são sérias como as sessões do Instituto Histórico e a sua perfeição e semelhança garantidas. Se ao ver a Careta, gentil senhorita, apreciadora entusiasta das seções galantes do jornalismo smart, franzir graciosamente as graciosas sobrancelhas, na boquita rubra estalando um desprezado muxoxo, nós já temos meia vingança: o muxoxo é meia careta, pelo menos. (Careta Ano I, nº 01, 6  jun. 1908, p. 3)

Schmidt já tinha experiência com outras revistas, como Kosmos e Fon-Fon!. Com o fim desses periódicos, Schmidt buscou criar uma nova publicação mais simples, popular e que evitasse a inconsistência de entrega dos seus colaboradores. Essa nova visão de gestão deu certo e a Revista Careta circulou durante 53 anos. Mesmo após sua morte em 1935, a publicação continuou circulando, tendo sua última edição datada em 5 de novembro de 1960, revista de número 2.732.

A linguagem provocativa, com grande repercussão no público, gerou vários conflitos com o Governo. “Um exemplo disso foi a prisão de Jorge Schmidt, em 1914, quando o Marechal Hermes decretou estado de sítio no país, invadindo e destruindo órgãos da imprensa de oposição.” (GARCIA, 2015, p. 35). A revista ficou um período suspensa por alguns meses.

O posicionamento político e charges ganharam destaque durantes o período do Estado Novo (1937-1945), em um contexto de censura imposta pelo governo de Getúlio Vargas. A pesquisadora Sheila Garcia detecta em seu estudo “o entrelaçamento entre a propaganda comercial e a veiculação do discurso de legitimação do regime.” (GARCIA, 2015, p. 41). Em meio a matéria enviadas pelas agências de governo, as charges atuaram na construção do discurso crítico dentro da revista. A forma de despistar a censura foi a de criar uma representação de Getúlio Vargas que evitasse a satanização e atribuísse a ele aspectos caricatos da figura baixinha, gorducha, sorridente e com seu charuto. As críticas eram construídas em duplo sentido ou em elementos gráficos escondidos. Esse mecanismo tinham a intenção de burlar a leitura dos censores no discurso contra o estado opressor, que tentava silenciar as manifestações artísticas críticas ao governo autoritário.

A revista tinha um alto padrão de impressão, sendo impressa em papel couché. Somente em 1941, com o mundo as voltas de uma Segunda Guerra Mundial, o preço do papel importado aumentou de preço e a Careta passou a ser publicada em papel jornal, usando o couché somente na capa.

Com o fim em 1960, a revista Careta foi relançada em 1964, durando apenas 3 edições. Em 1981 uma terceira versão da revista chegou às bancas, mas também com curta duração.

Referência

Biblioteca Nacional. Careta. http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/careta/careta_anos.htm

GARCIA, Sheila do Nascimento. Revista Careta: um estudo sobre humor visual no Estado Novo (1937-1945). Dissertação (Mestrado em História)- Faculdade de Ciência e Letras, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Assis, 2015. Disponível em:
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/93407/garcia_sn_me_assis.pdf?sequence=1