Categoria: Memória Ilustrada

1905 – O Tico-Tico

 A revista O Tico-Tico foi fundada em 11 de outubro de 1905 pelo jornalista Luiz Bartolomeu de Souza e Silva, proprietário da editora O Malho do Rio de Janeiro. A revista infantil é considerada pioneira por ser a primeira revista infantil no Brasil.

O nome foi inspirado no pássaro tico-tico, que Luiz Bartolomeu avistou no jardim de sua casa. A inspiração para o conteúdo veio da revista francesa La Semaine de Auzette, copiando e traduzindo material estrangeiro, sempre adaptando os textos dos quadrinhos para a realidade brasileira. A revista também abriu espaço para os artistas e redatores nacionais.

A revista colorida, e de excelente acabamento, era semanal e durou até o número 2.082, na edição especial de setembro/outubro de 1959.

Custando 200 réis, preço barato na época, rapidamente alcançou sucesso entre as crianças, pais e educadores.

Na equipe que trabalhou na revista estão Angelo Agostini, Vasco Lima, Lobão, Cícero Valadares, J. Carlos, A. Rocha, Loureiro, Leônidas e Alfredo Storni.

O personagem principal era “Chiquinho”, tradução do personagem “Buster Brown”, de norte-americano Richard Fenton Outcault. Chiquinho era um garoto aristocrata que sempre aprontava as mais diversas confusões e traquinagens. A aceitação era tamanha, que muitos acreditavam na época que Chiquinho era um personagem genuinamente nacional. Por este motivo, mesmo quando Outcaut parou de desenhar a série em 1910, no Brasil o personagem seguiu sendo publicado por artistas nacionais até o final dos anos 1950, sendo adaptado seu visual para um clima mais tropical.

Outros destaques da revista foram o trio “Reco-Reco, Bolão e Azeitona”, desenhado pelo cearense Luiz Sá (1907-1980); e o caricaturista carioca J. Carlos (1888-1950).

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A revista O Tico-Tico, 11 de outubro de 1905

1904 – A Revolta da Vacina

A Revolta da Vacina, charge de Leonidas, publicada em 29 de outubro de 1904 na edição 111 da revista O Malho.

Legenda:
“Guerra Vaccino-Obrigateza!…
Espetaculo para breve nas ruas desta cidade: Oswaldo Cruz, o Napoleão da seringa e lanceta, à frente das suas forças obrigatorias, será recebido e manifestado com denodo pela população. O interessante dos combates deixará a perder de vista o das batalhas de flores e o da guerra russo-japoneza. E veremos no fim da festa quem será o caccinador à força!”

Revolta popular carioca contra o médico sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917), apelidado de “Napoleão da Seringa e Lanceta”, por causa da Lei da Vacinação Obrigatória, que estipulava a vacinação compulsória contra a varíola.

Lei nº 1261, de 31 de outubro de 1904
Torna obrigatórias, em toda a República, a vaccinação e a revaccinação contra a variola.

A cidade do Rio de Janeiro do começo do século XX, capital da República dos Estados Unidos do Brazil, possuía graves problemas de saneamento público, que resultou em vários surtos de doenças contagiosas. Oswaldo Cruz assume em 1903 a diretoria Geral de Saúde Pública com a missão de erradicar estas epidemias.

O ambiente de lixo acumulado nas ruas foi propício para a proliferação do vírus da varíola, chegando a 1.800 internações em 1904. Para conter a doença, Oswaldo Cruz optou pela ação da vacinação obrigatória, decretada por lei. Porém não houve uma campanha de conscientização. 

Funcionários da Saúde Pública, com ajuda da polícia, vacinavam à força a população. Vários atos da vida civil, como matrículas nas escolas, casamentos, autorização de trabalho, só seriam concedidos mediante comprovação de vacinação. Quem resistisse às medidas, seria obrigado a pagar uma multa.

A falta de esclarecimento fazia com que a população rejeitasse a ideia de injetar um líquido de pústulas (pequena elevação da epiderme) de vacas doentes em seus corpos. A população não gostou do caráter compulsório da lei e protestos violentos aconteceram entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904. O motim resultou na morte de 30 pessoas, 110 feridos, 945 pessoas presas, 461 deportações para o Estado do Acre e depredações de bondes, trilhos, calçamentos e postes de iluminação.

Fontes:

Lei nº 1261, de 31 de outubro de 1904
Torna obrigatórias, em toda a República, a vaccinação e a revaccinação contra a variola.
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1900-1909/lei-1261-31-outubro-1904-584180-publicacaooriginal-106938-pl.html

Hemeroteca Digital Brasileira – Biblioteca Nacional
Revista O Malho nº 111
http://memoria.bn.br/pdf/116300/per116300_1904_00111.pdf

Infoescola.com – Revolta da Vacina
https://www.infoescola.com/historia/revolta-da-vacina/

Educa Brasil – Revolta da Vacina
https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/revolta-da-vacina

Portal FioCruz – Revolta da Vacina
https://portal.fiocruz.br/noticia/revolta-da-vacina-2

El País – Em busca do segredo da primeira vacina da humanidade, que erradicou a varíola
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/24/ciencia/1503587279_312148.html

1902 – O Malho

Fundada por Luís Bartolomeu de Souza e Silva, a revista O Malho começou a circular no Rio de Janeiro no dia 20 de setembro de 1902. Um grande número de ilustradores, aliados a inovação tecnológica que substituiu a impressão de pedra litográfica por placa de zinco, fez das edições um marco editorial do país.

Entre os artistas que contribuíam para as edições estavam Crispim do Amaral,  J. Carlos, Angelo Agostini, Lobão , Guimarães Passos, L. Peixoto, Leonidas Freitas, Nássara, Raul, Kalixto, Storni e outros colaboradores.

A revista trazia charges, notícias nacionais e internacionais, artigos, colunas socais, esportes, política e muitos anúncios publicitários. Com linha editorial com posição ideológica definida, em 1930 combateu a Aliança Liberal de Getúlio Vargas. Com a chegada de Vargas ao poder, a redação da revista foi invadida e destruída, e o periódico parou de circular. Entre 1935 e 1954, O Malho retorna, desta vez como revista de notícias e literatura.

http://www.casaruibarbosa.gov.br/omalho/?lk=8

http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/malho/anuario_malho.htm

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O Malho, 20 de setembro de 1902

1901 – Pirâmide do Sistema Capitalista

Folheto do Union of Russian Socialists. Representa a divisão de classes sociais e critica fortemente a desigualdade econômica presente no Império Russo em 1901.

Durante o século XIX, havia uma forte tensão social na Rússia devido a pouca liberdade e a grande miséria da população, que vivam em sistema feudalista opressor. A fome, o desemprego e os baixos salários entravam em choque com o luxo da aristocracia.

A ilustração de Lokhoff baseou-se nessa realidade. No topo a águia negra, símbolo do Império Russo. Seguido pela figura do czar e dos líderes que governam o Estado. Logo abaixo a representação do Clero e o poder da religião. A proteção desse sistema aparece na próxima camada através da manutenção da ordem e do uso da força através do exército imperial. Vivendo de uma vida de luxo, a burguesia. Na base, os proletariados rurais e urbanos carregando toda essa estrutura nos ombros. Alguns caídos, cansados ou com fome.

Ao fundo, um trabalhador agita uma bandeira simbolizando o surgimento do movimento socialista. “Chegará um tempo em que as pessoas em sua fúria se ergueram e derrubarão a estrutura com um poderoso empurrão de ombros.”

Em 1917 acontece a Revolução Russa contra o czar Nicolau II.

O folheto russo inspirou várias versões, como a Pirâmide do Sistema Capitalista do Jornal Industrial Worker, publicada em 1911. A nova versão traz algum mudanças mas mantém a sua crítica as estruturas de poder.

No topo, a águia cede lugar ao saco de dinheiro, simbolo do capitalismo. Abaixo os governantes e a alta burguesia detentora dos meios de produção e as instituições financeiras. A Igreja continua com seu poder ideológico de controle sobre a população. As forças militares novamente aparecem para manutenção da ordem e estrutura de proteção contra revoltas e revoluções. Os pequenos burgueses desfrutam de uma boa vida e comida farta. E os proletariados na base de tudo, homens, mulheres e crianças.

Capitalismo
– Nós mandamos em você.
– Nós enganamos você.
– Nós atiramos em você.
– Nós comemos por você.
– Nós trabalhamos por todos. Nós alimentamos todos.