Categoria: Memória Ilustrada

1901 – Pirâmide do Sistema Capitalista

Folheto do Union of Russian Socialists. Representa a divisão de classes sociais e critica fortemente a desigualdade econômica presente no Império Russo em 1901.

Durante o século XIX, havia uma forte tensão social na Rússia devido a pouca liberdade e a grande miséria da população, que vivam em sistema feudalista opressor. A fome, o desemprego e os baixos salários entravam em choque com o luxo da aristocracia.

A ilustração de Lokhoff baseou-se nessa realidade. No topo a águia negra, símbolo do Império Russo. Seguido pela figura do czar e dos líderes que governam o Estado. Logo abaixo a representação do Clero e o poder da religião. A proteção desse sistema aparece na próxima camada através da manutenção da ordem e do uso da força através do exército imperial. Vivendo de uma vida de luxo, a burguesia. Na base, os proletariados rurais e urbanos carregando toda essa estrutura nos ombros. Alguns caídos, cansados ou com fome.

Ao fundo, um trabalhador agita uma bandeira simbolizando o surgimento do movimento socialista. “Chegará um tempo em que as pessoas em sua fúria se ergueram e derrubarão a estrutura com um poderoso empurrão de ombros.”

Em 1917 acontece a Revolução Russa contra o czar Nicolau II.

O folheto russo inspirou várias versões, como a Pirâmide do Sistema Capitalista do Jornal Industrial Worker, publicada em 1911. A nova versão traz algum mudanças mas mantém a sua crítica as estruturas de poder.

No topo, a águia cede lugar ao saco de dinheiro, simbolo do capitalismo. Abaixo os governantes e a alta burguesia detentora dos meios de produção e as instituições financeiras. A Igreja continua com seu poder ideológico de controle sobre a população. As forças militares novamente aparecem para manutenção da ordem e estrutura de proteção contra revoltas e revoluções. Os pequenos burgueses desfrutam de uma boa vida e comida farta. E os proletariados na base de tudo, homens, mulheres e crianças.

Capitalismo
– Nós mandamos em você.
– Nós enganamos você.
– Nós atiramos em você.
– Nós comemos por você.
– Nós trabalhamos por todos. Nós alimentamos todos.

O Rio Nu

O Rio Nu era um periódico que começou a circular na cidade do Rio de Janeiro em 1898. Voltado para o público masculino, era uma publicação de 4 páginas, com estilo transgressor para sua época. Foi o responsável por introduzir a pornografia na imprensa brasileira.

Com a evolução das técnicas de impressão, passou a ser ilustrado. Em 10 de janeiro de 1900, o periódico bi-semanal reformulou seu visual, aumentou para 8 páginas e se intitulou como “Caustico, humorístico e illustrado”. A partir desse ano, houve o aumento de ilustração com mulheres nuas que fez a aumentar a venda de exemplares.

Na edição de 10 de janeiro de 1900, há na capa o publicação do trabalho do artista Armando Sacramento com uma tirinha em quadrinhos bem humorada. Era o Zé aguardando uma mulher casada sair escondida pela janela. Mas o Zé é surpreendido por um homem disfarçado, que desmarcara a traição e dando-lhe uma bengalada. A sequência tem três quadros, sem a divisão de requadros entres eles, e com texto narrativo localizado no rodapé dos desenhos.

Em fevereiro de 1900, a capa de O Rio Nú traz um quadrinhos de Frei Gallo. Nele, um homem se encanta por uma mulher e a aborda na rua, faz galanteios e aplica uma irresistível cantada. A mulher então o leva para sua casa para matar todos os seus desejos. No quarto, ao começar a tirar a roupa, a mulher deixa o homem bastante empolgado com os seios opulentos e esbeltos. Mas no final, ao tirar o corpete, ela revela que se trata de enchimento. Ela termina dizendo que só os peitos são postiços, todo o resto é brasileiro: “Tem sal, pimenta e limão…” Neste trabalho, os textos ainda estão no rodapé, mas percebe-se que as seis cenas estão separadas por requadros.

Continue lendo

1897 – Os Sobrinhos do Capitão

O sucesso de Yellow Kid no New York World fez com que o jornal concorrente, o New York Journal, encomendasse ao artista Rudolph Dirks a criação de algo semelhante para seu suplemento American Humorist.

Dirks era alemão naturalizado norte-americano e se inspirou no trabalho de Max und Moritz (Juca e Chico) de Wilhelm Busch para criar uma dupla de crianças atentadas. Em 12 de dezembro de 1897 era publicada a primeira tira de Katzenjammer Kids.

Crédito imagem: Wikiwand

Hans e Fritz, o nome dos dois irmão, protagonizavam histórias que passaram a ter um elenco de personagens permanentes. O artista estruturou a narrativa em uma sequências de quadros e adotou o uso sistemático dos balões de fala. É considerada um marco na consolidação da linguagem das histórias em quadrinhos moderna.

Crédito imagem: Steven Stwalley

Em 1912, o criador queria uma pausa após 15 anos de produção. O sindicato do jornal que distribuía suas tiras pelo mundo não aceitou. Dirks então saiu do periódico e entrou em uma briga judicial que se arrastou até 1914. A decisão fez com que o New York Journal continuasse com o título “Katzenjammer Kids”, sendo desenhada por Harold Knerr…

Katzenjammer Kids de Harold Knerr

Enquanto Dirks conseguiu o direito de continuar a publicar novas histórias, tendo apenas que fazer a trocar o título para “The Captain and the Kids”.

The Captain and the Kids, Rudolph Dirks

1895 – Yellow Kid

1ª edição: 17 de fevereiro de 1895, New York World, EUA

Na década de 1880, o dono do jornal New York Word, Joseph Pulitzer, começou a inovar o segmento com edições aos domingos recheadas de ilustrações e de cores. Apreciador do cartum, Pulitzer passou a exibir em 1895 o quadro humorístico “Down Hogan’s Alley” de Richard Outcault (1863-1928). Na sátira, um garoto careca para evitar piolho, de feições orientais para abordar as questões sobre imigração e que vestia um camisolão (sinônimo de pobreza comum na época porque roupas de pessoas mais velhas eram recortadas e reaproveitadas para vestir as crianças) e onde eram estampadas severas críticas sociais.

Inicialmente o menino aparecia com o vestido pintado de outras cores, azul ou cinza. Em 5 de janeiro de 1896, o jornal conseguiu resolver problemas técnicos que antes impedia a impressão da cor amarela porque a ela não secava direito. Para testar, o responsável pela impressão resolveu testar o amarelo na camisola do personagem, que logo passou a ser reconhecido como Yellow Kid (O Garoto Amarelo).

Primeira aparição do Yellow Kid em sua camisa amarela, 5 de janeiro de 1896. Crédito imagem: Lambiek Comiclopedia

O sucesso fez com que Outcault ganhasse uma página inteira do jornal para poder explorar ao máximo todos os detalhes que ele acrescentava aos desenhos.

As falas do garoto apareciam em sua roupa, enquanto a dos personagens que interagiam com ele surgiam por meio de cartazes, placas nas ruas e em balões. A mais famosa sequência do uso do balão foi o “The Yellow Kid and his new phonograph”, publicada em outubro de 1896, onde um papagaio escondido dentro de um gramofone pregava uma peça no menino. Richard Outcault não foi o inventor do balão de fala mas por estar sendo publicado em um jornal de grande tiragem, popularizou o recurso. Nesse trabalho também percebe-se a experiência da criação de uma sequência de imagens para contar a história.

Outcault acabou não gostando muito do novo estilo porque acreditava que as falas estampadas no vestido era a melhor solução. Porém, sua contribuição inspirou muitos outros artistas. Alguns historiadores creditam que 25 de outubro de 1896, data em que essa tira foi publicada, como sendo a criação dos quadrinhos modernos. Entretanto, atualmente muitos outros pesquisadores questionam esse marco.

O artista foi trabalhar no jornal concorrente New York Jounal, fazendo com que Yellow Kid fosse publicado nos dois periódicos ao mesmo tempo. A série de Outcault foi publicada até 1898. Em 1902 cria nova tira intitulada Buster Brown. trazendo novos personagens.

Em 1904, Richard Outcault vende a licença de seus personagens para a Brown Shoe Company, surgindo o produto Buster Brown.