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A Gibiteca Stan Lee: uma articulação entre quadrinhos, leitura e temas transversais

Autores:
Alex Caldas Simões
Jehíza Kiister Clementino
João Vitor do Vale da Rocha
Kedson de Oliveira Bertazo

Resumo

Uma Gibiteca é um espaço de socialização de leituras de quadrinhos, bem como de organização, seleção e aquisição de publicações em quadrinhos (Nogueira, 2015). É um estímulo à leitura multimodal, à crítica e à reflexão à indústria cultural. Relatamos aqui a experiência de implementação da Gibiteca itinerante Stan Lee, na cidade de Venda Nova do Imigrante (ES). O projeto articulou os quadrinhos aos temas transversais propostos pelos PCN, às datas comemorativas do ano letivo escolar e às temáticas escolares relevantes. Aqui a história em quadrinhos é um objeto interdisciplinar (Japiassú, 1976) e integrador das disciplinas. Como resultados parciais do projeto temos: (a) a constituição de um acervo representativo de revistas em quadrinhos, cujo critério foi abordar os temas transversais; e (b) a realização de oficinas de leitura sobre o mês da mulher, tendo como base a alfabetização dos quadrinhos (Vergueiro, 2009a), na qual a sua linguagem (Ramos, 2009) foi apresentada. Tivemos como objeto de estudo as histórias em quadrinhos Mulher-Maravilha: deuses e mortais (Wein, Pérez, 2016) e Mafalda: feminino singular (Quino, 2020). A proposta se desenvolveu na biblioteca da escola parceira e revelou ser um instrumento relevante para discussão dos temas transversais e do currículo oculto. A leitura da história em quadrinhos mobilizou conhecimentos de leitura, sociedade e texto.

Trechos

“[…] uma gibiteca, a fim de promover os quadrinhos, tem como objetivo o estímulo e o incentivo à leitura de narrativas quadrinizadas. […] “Numa definição bem simples, gibitecas são espaços destinados ao armazenamento e leitura de HQs.” (Nogueira, 2015, p. 90). […] O termo “Gibiteca” faz menção à palavra “Gibi”, sinônimo de histórias em quadrinhos –e “nome de uma famosa e popular revista das organizações O Globo, publicada de 1939 a 1950.” (Vergueiro, 2003, p. 2). Uma gibiteca, portanto, é um estímulo à formação de leitores e à leitura crítica de histórias em quadrinhos, uma reflexão à indústria cultural. Acima de tudo é um lugar de integração e reunião de toda comunidade escolar (Nogueira, 2007) e um incentivo à leitura (Baía; Condurú, 2022)” (Simões; Clementino; Rocha; Bertazo, 2024, p. 4).

“Desde os PCN (1998) as histórias em quadrinhos estão na escola, sendo reconhecidas como legítimos objetos para o trabalho com a leitura, a escrita e a análise linguística. É um claro objeto interdisciplinar porque, por meio de um projeto comum com as histórias em quadrinhos, desenvolve-se uma forte relação e diálogo –combinação –entre as disciplinas escolares (Japiassú, 1976)” (Simões; Clementino; Rocha; Bertazo, 2024, p. 5).

“Nesse sentido, todas as disciplinas –cada uma em sua área de formação, a partir de pelo menos duas disciplinas –podem utilizar as histórias em quadrinhos em um projeto escolar integrador. […] ” (Simões; Clementino; Rocha; Bertazo 2024, p. 5).

“Como se vê, a interdisciplinaridade é uma exigência da pós-modernidade (Oliveira, 2009) e com ela surge a possibilidade de reflexão crítica sobre muitos problemas atuais” (Simões; Clementino; Rocha; Bertazo, 2024, p. 6).

SIMÕES, Alex Caldas; CLEMENTINO, Jehíza Kiister; ROCHA, João Vitor do Vale da; BERTAZO, Kedson de Oliveira. A Gibiteca Stan Lee: Uma articulação entre quadrinhos, leitura e temas transversais. 9ª Arte (São Paulo)[S. l.], p. e218673, 2024. DOI: 10.11606/2316-9877.Dossie.2023.e218673. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/nonaarte/article/view/218673.

Quadrinhos, sedução e paixão, de Moacy Cirne

Sinopse:
“Quadrinhos, sedução e paixão é o sexto livro de Moacy Cirne sobre o tema, desde o pioneiro A explosão criativa dos quadrinhos, lançado em 1970 pela Editora Vozes, e que seria o primeiro livro publicado no Brasil dedicado ao fascinante universo dos “heróis e heroínas de papel”. A obra é capaz de mobilizar não apenas os que apreciam – e discutem – a linguagem dos comics. Aqueles que admiram poesia, cinema e ficção científica, por exemplo, também terão motivos para se interessar por suas indagações críticas – e que não são poucas. São indagações que abrangem o mundo dos quadrinhos, mas que procuram abarcar outras vertentes na esfera da arte. Afinal, a “febre sociológica” que norteava os primeiros ensaios sobre os quadrinhos, nos anos 60 e 70, já passou. O momento exige uma reflexão mais profunda sobre as potencialidades criativas e seus devaneios oníricos, assim como continua exigindo uma visão acurada de seus embates ideológicos e de sua relação com as novas tecnologias e algumas das demais linguagens do campo artístico.

Moacy Cirne nasceu em Jardim do Seridó, RN, em 1943. Morou longos anos em Caicó e Natal, no mesmo Estado. Passou a residir no Rio de Janeiro em 1967. Estudou Direito. Participou da fundação do poema-processo , em 1967. Secretariou a revista Cultura Vozes, nos anos 70. Publicou mais de 15 livros, entre os quais História e crítica dos quadrinhos brasileiros (1990), premiado em Cuba com o troféu La Palma Real. Laureado, em 2000, com o Troféu Angelo Agostini, de São Paulo. Criou a “folha porreta” Balaio, distribuída a partir de 1986. Professor da Universidade Federal Fluminense desde 1971, atualmente vice-diretor do Instituto de Arte e Comunicação Social e chefe do Departamento de Comunicação Social.”

Capítulos:

  • Imaginário e especificidade dos quadrinhos;
  • Quadrinhos, política e saber militantes;
  • Heróis e personagens – talvez sim, talvez ficção;
  • Quadrinhos, máquina & imaginário;
  • Lugar do erotismo nas histórias-em-quadrinhos;
  • Cinema e quadrinhos: uma nova leitura;
  • Quadrinhos e literatura: um olhar marcado pela poesia;
  • Da ficção científica ao mundo dos quadrinhos;
  • Há um cânone dos quadrinhos?

Quadrinhos são uma narrativa gráfico-visual, impulsionada por sucessivos cortes, cortes estes que agenciam imagens rabiscadas, desenhadas e/ou pintadas. O lugar significante do corte – que chamaremos de corte gráfico – será sempre o lugar de um corte espácio-temporal, a ser preenchido pelo imaginário do leitor. Eis aqui sua especificidade: o espaço de uma narrativa gráfica que se alimenta de cortes igualmente gráficos. Na “banda desenhada”, a grafia exibe uma dupla articulação semiótica: a narrativa enquanto tal e o seu agente impulsionador (o corte), que mobilizam a relação produção/leitura de forma a mais eficaz possível, tendo em vista a própria operacionalidade semântica e estrutural de sua vigência quadrinhística. Isto é, seu espaço narrativo só existe na medida em que articula com os cortes, que, assim, seriam redimensionados pelo leitor. De maneira mais simpler, diremos: a especificidade dos quadrinhos implica seu modo narrativo, determinado pelo ritmo das tiras e/ou páginas em função de cada leitura particular, leitura esta que se constrói a partir das imagens e dos cortes. Neste sentido, os balões, que encerram a “fala” e/ou o “pensamento”, por mais importantes que sejam, não passam de elementos lingüísticos, mesmo quando inventem na estesia de suas possibilidades criativas. Mesmo quando são metalingüísticos. (CIRNE, 2000, p. 23-24)

CIRNE, Moacy. Quadrinhos, sedução e paixão. Petrópolis: Vozes, 2000.

CDD- 741.5 1. Histórias em quadrinhos : interpretação crítica

A linguagem dos quadrinhos: o universo estrutural de Ziraldo e Maurício de Sousa, de Moacy Cirne

Sinopse:

“A importância social, estética e comunicacional das estórias em quadrinhos já foi devidamente assinalada, seja por Umberto Eco e Alain Resnais, seja por Marshall McLuan e Federico Fellini. Seus instigantes e excepcionais vetores criativos, a partir de 1960/61, começaram a merecer análises críticas pautadas na especificidade de sua linguagem: a narrativa estruturada segundo certos requisitos semânticos e operacionais.

No Brasil, – no que se refere ao campo editorial -, a VOZES é pioneira no estudo de quadrinhos. Primeiramente, com o n. 7, de julho de 1969, da Revista Vozes; em seguida, com o livro Bum! A explosão criativa dos quadrinhos, de Moacy Cirne, lançado em julho de 1970, e já em 2ª edição. E mais uma vez Moacy Cirne se volta para a problemática estético-informacional dos comics, desta feita se detendo na particularidades sígnicas que constituem as historietas brasileiras.

O presente livro – A linguagem dos quadrinhos -, além de levar alguns problemas ideológicos e econômicos da maior relevância cultural, específicos à nossa realidade contextual, estuda (pela primeira vez entre nós) a experiência do Pererê, de Ziraldo, e a obra em progresso de Maurício de Sousa. O universo encantatório de Pererê e Tininim, Galileu e Campadre Tonice, Mônica e Cebolinha, Horácio e Jotalhão nos é relevado com a mesma clareza crítica que precisou o Bum! Além disso, nos são apontados o contexto vanguardísticos que se fabrica ao lado das experiência em quadrinhos, os procedimentos onomatopaicos em Ziraldo, as melhores estórias da revista Pererê, a metalinguagem e o absurdo antológico em Maurício de Sousa. Assim sendo, o livro se apresenta indispensável para estudiosos de quadrinhos, teóricos da comunicação e praticantes da vanguarda (no cinema, na música, no poema).

Moacy Cirne, natural do Rio Grande do Norte, estudou na Faculdade de Direito de Natal, despontou como autor laureado no I Prêmio Esso-Jornal de Letras de Literatura (1966), fundou – ao lado de outros poetas – o movimento do poema/processo (1967), publicou o primeiro livro brasileiro sôbre quadrinhos (1970), coordenou um número sôbre O mundo dos super-heróis (1971). É professor do Instituto de Comunicação da Universidade Federal Fluminense e secretário da referida revistas de Cultura Vozes.”

Citações:

Os quadrinhos brasileiros – e/ou os quadrinhos no Brasil – nunca foram levados a sério. […] Quando a problemática comunicacional passou a receber um tratamento crítico fundado na semiótica e na Teoria científica da História, os quadrinhos despontaram […] (CIRNE, 1971, p. 9).

Estamos vendo como os quadrinhos (da mesma forma que o cinema, o poema de vanguarda etc.), e em especial os quadrinhos brasileiros, podem e devem levar questões da mais alta significação cultural, como aliás o têm feito durante todos êstes anos. Resta verificar se ao levantamento desses questões tem correspondido uma ação crítica eficaz e criativa (CIRNE, 1971, p. 16).

Assim como existe uma nova crítica literária (nascida fora das Faculdades de Letras!) e uma nova crítica cinematográfica (nascida fora dos cineclubes!), é preciso que exista uma (nova) crítica de quadrinhos.

É bem possível que em breve tenhamos semiólogos, por exemplo, como os nossos melhores críticos de historietas, para desespêro dos “colecionadores de gibis”.

Sômente uma crítica nova atenderá criativamente às exigências de um processo nôvo. No cinema, na música, no poema. E nos quadrinhos. (CIRNE, 1971, p. 17-18)

CIRNE, Moacy. A linguagem dos quadrinhos: o universo estrutural de Ziraldo e Maurício de Sousa. Petrópolis: Vozes, 1971.

Shazam!, de Álvaro de Moya (org.)

“Os comics converteram-se em alimento de consumo de massa para os cidadãos de todo o mundo, influindo na sua cultura, sua língua e seus costumes, modelando seus gostos e suas inclinações. Por isso mesmo constituíram-se em um dos principais objetos de análise e estudo no domínio das comunicações, já tendo suscitado volumosa bibliografia internacional, à qual vem juntar-se agora a valiosa contribuição brasileira que Álvaro de Moya organizou com inteligência.”

Texto contra-capa

MOYA, Álvaro de Moya (org.). Shazam!. Coleção Debates Comunicação. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977.

ISBN-10: 8527306727
ISBN-13: 978-8527306720