Autor: Jimmy Rodrigues – Redator da Rádio Caxias do Sul
Biblioteca Pública – Jornal Caxias do Sul (1948)
Trecho:
Não é isso que se quer, mas isso não quer dizer, também, que está certo que tenhamos uma mentalidade de jornal, ou de histórias de quadrinhos que aparecem no Gibi. E notem bem: o jornal e mesmo os Gibis são muito interessantes, interessantes quanto variedade, e nunca quando constituem a exclusiva leitura de alguém. A propósito, Ruy Barbosa, uma vez, contou a alguns amigos um conto muito interessante que havia lido. Perguntaram-lhe, depois da narração, onde havia lido aquele conto. E o Águia de Haya, respondeu: “Parece que foi no Globo Juvenil”… Talvez isso seja apenas anedotas, mas mesmo como anedota serve para demonstrar que Ruy Barbosa lia tudo que lhe caia nas mãos. E não queriam dizer agora que Ruy Barbosa sorveu a sua vasta cultura no Globo Juvenil.
“Em 1940, Vicente Guimarães procurou José Neves Queiroz, de uma velha família de gráficos mineiros, com o plano de uma revista infantil. José Queiroz topou a ideia com paixão e, no meio da profusão e do êxito comercial dos gibis, eles saíram com uma revistinha mineiríssima, que o Brasil inteiro leu durante 15 anos.” Ziraldo
Era uma vez… foi a primeira revista infanto-juvenil de Minas Gerais, lançada em 15 de abril de 1940 em Belo Horizonte, . De periodicidade quinzenal, foi rodada na Gráfica Queiroz Breyner.
Tinha uma linha editorial que prestigiava o trabalho de grandes artistas da imprensa mineira e abriu espaço para novos talentos, como Ziraldo. Era uma revista que fazia frente as produções da época que publicavam, principalmente, tradução de material estrangeiro, o que barateava os custos. Objetivava ser uma alternativa ao conteúdo estrangeiro que traziam preocupação na época aos impactos da leitura nos jovens leitores. Diz ser uma revista sadia para mentes sãs.
Inicialmente funcionou sob a direção de Vicente Guimarães, com o subtítulo Revista de Vovô Felício para os seus netinhos. Vicente depois se muda para o Rio de Janeiro para assumir a chefia do departamento do SESI que cuidava do Serviço de Orientação e Recreação da Infância da revista Sesinho (1947). Assim, a condução da revista passou para as mãos dos Estabelecimentos Gráficos Santa Maria, com a direção de José Neves, trocando seu subtítulo para A revista infanto-juvenil mais bonita do Brasil. Essa segunda fase durou até abril de 1955.
Vicente Guimarães nasceu em Cordisburgo/MG, formou-se como professor primário, trabalhando como Inspetor Federal de Ensino até 1976. Começou sua trajetória publicação narrativas infantis em Caretinha. Depois fundou o Suplemento Infantil de O Diário (1940) de Belo Horizonte. Inspirado com o suplemento, surge a ideia de Era uma vez… Muda-se para o Rio de Janeiro para trabalhar no SESI, criando a revista Sesinho. Volta para BH, atuando em rádio clube e tv. Através do Rotary Club, criou 18 bibliotecas infantis.
José Neves Queiróz
A Gráfica Queiroz Breyner foi, por vários anos, a única gráfica de Belo Horizonte que tinha maquinário apropriado para imprimir as revistas ilustradas da cidade. Imprimia a revista Bello Horizonte (1933) e Alterosa (1939), antes de lançar a Era uma vez…. O gráfico José Neves Queiróz assume a revista infanto-juvenil com a ida de Vicente para o Rio.
1ª edição: 12 de abril de 1939 . Editora O Globo. Formato tabloide com 32 páginas. Custava 300 réis. Primeira série da revista foi até o número 1739, em 31 de maio de 1950.
.Anúncio do lançamento de Gibi no Jornal O Globo, de 12 de abril de 1939
Adolfo Aizen, jornalista que prestava serviços para Roberto Marinho, visitou os EUA onde conheceu o grande potencial de venda dos suplementos. Aizen voltou com a ideia de implementar essas cadernos no jornal O Globo. Marinho não aprovou por achar que era um investimento de alto risco.
Aizen busca parceiros e encontra a oportunidade de publicar no jornal A Nação. Entre os suplementos, o que mais fez sucesso era o Suplemento Infantil. Logo depois fundaria sua própria editora, Grande Consórcio Suplementos Nacionais, onde passaria a publicar o Suplemento Juvenil.
Vendo o sucesso de vendas de seu antigo colaborador, Roberto Marinho muda de ideia e inicia uma linha de revistas para disputar mercado com Aizen. Para concorrer com o Suplemento Juvenil, lançou O Globo Juvenil. Com o sucesso da primeira revista, em 1939 chega as bancas a revista Gibi.
Gibi era terno que na época significava menino, moleque, menino negro. Muitos desses garotos vendiam jornais nas ruas das grandes cidades. Foi esse pequeno vendedor de jornais negro que inspirou o nome e o personagem apareceu nas capas, ao lado da logo, em diversas edições.
Gibi tinha como conteúdo As Aventuras do Detetive Charlie Chan, Ferdinando, Brucutu, Tarzan, Flash Gordon, Príncipe Valente, Dick Tracy, Spirit, entre outros títulos distribuídos pelo sindicatos norte-americanos detentores dos direitos autorais.
As Aventuras de Chalie Chan, de Earl Derr Biggers, era o destaque do número 1 de Gibi.
Capa da primeira edição de Gibi, de 12 de abril de 1939
O sucesso de vendas e o preço baixo fez com que a revista tivesse três edições por dia e ganhasse uma revista variante, chamada Gibi Mensal.
Em 1952, o Grupo Globo fundou a Rio Gráfica e Editora (RGE), para dar conta do aumento das tiragens das revistas especializadas em quadrinhos. O sucesso durou mais alguns anos, porém o mercado foi se modificando, e os leitores passaram a gostar mais de revistas com uma linha editorial com seus personagens preferidos protagonizando com revistas próprias do que revistas com coletâneas de várias histórias com diferentes personagens e gêneros. Desta maneira, as revistas de coletâneas, que era a característica da Gibi, acabaram sendo descontinuadas. O Novo Gibi, deixou de circular em dezembro de 1954. A Gibi Mensal seguiu até o número 249, em 1961.
Uma tentativa de relançamento aconteceu em 1974 como o Gibi Semanal, que durou 40 números. A segunda, em 1975, lançou o Gibi Especial e teve 8 números. O Almanaque do Gibi Nostalgia, terceira tentativa, durou 6 edições entre 1975 e 1977. Uma coletânea foi criada em 1980, em Gibi de Ouro – Os Clássicos dos Quadrinhos, com 6 edições.
Depois que a RGE se transformou em Editora Globo, 12 edições de Gibi foram lançadas entre 1993 e 1994, com personagens clássicos. Usou-se ainda os títulos Gibizinho entre 1991 e 2006 e o Gibizão da Turma da Mônica, entre 2001 e 2005.
A revista, principalmente em sua primeira fase, fez muito sucesso e deixou sua marca no mercado editorial das hqs. Ao mesmo tempo, uma série de ataques contra os quadrinhos, onde muitos defendiam que eram maléficos para a juventude, jornais rivais d’O Globo passaram a fazer matéria usando Gibi de forma genérica para falar mal sobre todas as revistas de fantasia e aventura e atingir indiretamente Roberto Marinho. Esse cenário permitiu que a marca mudasse o significado de gibi, transformando o termo em sinônimo de histórias em quadrinhos no Brasil.
1950 a 1952 – Novo Gibi – O Globo – n. 1740 ao 1797. (Mudança de nome, continuação da numeração).
1952 a 1954 – Novo Gibi – RGE – n. 1798 ao 1842. (O sucesso fez com que o jornal criasse uma editora própria para histórias em quadrinhos: a Rio Gráfica Editora – RGE.)
Gibi Mensal
1941 a 1952 – Gibi Mensal – O Globo – n. 1 ao 137.
1996 a 201 – Gibizão da turma da Mônica – Editora Globo – 9 edições.
1998 a 2003 – Almanaque do Gibizinho Mônica – Editora Globo – 65 edições.
Gibi também inspirou o nome dos espaços dedicados à preservação, organização, leitura, difusão e formação de público leitor de história em quadrinhos. Da junção de gibi + biblioteca , surgiram as gibitecas.
VERGUEIRO, Waldomiro. SANTOS, Roberto E. dos. A revista Gibi e a consolidação do mercado editorial de quadrinhos no Brasil. Matrizes. Vol. 8, n.2, 2014. São Paulo: Universidade de São Paulo, jul./dez de 2014. p. 175-190. Disponível em https://www.redalyc.org/pdf/1430/143032897010.pdf
Edição que trouxe para o Brasil o formato Comic Book, contendo histórias completas que antes vinham apenas em tiras, publicadas por capítulos. Publicação tri-semanal: quartas e domingos com histórias em série; sextas com histórias completas.